Fazenda Paineiras da Ingaí -
Búfalos Murrah Leiteiros |
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Industrialização do leite de búfalas |
Apesar de largamente consumido
"in natura" em diversos países e mesmo no Brasil, onde
muitas vezes é misturado ao leite bovino, sua utilização natural, face às suas
características particulares parece ser sua industrialização
visto apresentar rendimento industrial muito superior ao do leite
bovino, particularmente na produção de derivados nobres como a
tradicional mozzarella italiana.
Nos últimos anos, surgiram no país diversos laticínios que se dedicam exclusivamente à produção de derivados de leite de búfalos, particularmente na região Sudeste e Sul do país. O leite desta espécie vem sendo normalmente remunerado por estes estabelecimentos a valores superiores ao oferecido ao leite bovino, e já surgem no mercado de maneira expressiva, oferta de derivados destes produtos, tais como; mozzarella (para consumo ou para pizza), queijos tipo frescal, ricota, requeijão, iogurte, doce de leite entre outros.
Junto à nossa propriedade, mantivemos uma pequena indústria de laticínios onde, fabricávamos, a partir de leite produzido na propriedade e adquirido de terceiros, a mozzarella fresca tradicional, em diversos formatos, queijo tipo frescal, ricota, próvola defumada, requeijão, etc. todos exclusivamente com leite de búfalas cuja demanda pelo mercado consumidor vêm se ampliando significativamente.
Apêndice 1
Industrialização do leite de búfalas
a. O leite
O leite de búfala, no que diz respeito às suas características
industriais, apresenta um teor médio de gordura em nosso meio de
cerca 6 a 8%, praticamente o dobro do leite bovino, e um teor de
proteínas (caseína), cerca de 30% maior. Sendo o queijo
básicamente uma malha de proteínas preenchida por matéria
gorda, estes teores permitem um rendimento industrial do leite de
praticamente o dobro do bovino. Assim sendo obtêm-se um Kg de
queijo tipo frescal a partir de 2,5 a 3,0 Kg de leite de búfalas
contra cerca de 8 a 10 Kg de leite bovino, e produzimos um Kg de
mozzarella com cerca de 5 a 7 Kg de leite de búfalas.
b. Fabricação
b.1. A coalhada
A produção tanto de queijos (branco e frescal) quanto da
mozzarella, inicia-se com a coagulação do leite, que é
produzida de duas formas; a natural ou ácida, quando o pH do
leite , através da multiplicação da flora bacteriana presente
no leite (cujo metabolismo produz a acidificação deste) que ao
atingir o ponto isoelétrico da caseína (pH de 4.6), a mesma se
precipita, tornando o leite com aspecto grumoso (coalhado), com
formação de partículas finas, de consistência frágil; a
outra forma, utilizada para a produção industrial, é
denominada coagulação enzimática, utilizando-se um catalizador
cuja base é uma enzima, a renina (coalho), que promove a
coagulação do leite de maneira rápida e uniforme, tornando a
coalhada de aspecto gelatinoso em cerca de 40 minutos a uma hora
à temperatura ambiente, com formação de grumos firmes e
elásticos, que, após seu fracionamento, se
"contraem", expulsando parte do soro de seu interior.
À coalhada, são adicionados fermentos , que nada mais são que
culturas bacterianas específicas, cujo desenvolvimento produz
aspectos, aroma e sabor característicos ao tipo de produto
elaborado.
A coalhada é então cortada através de facas paralelas (liras),
produzindo grão de tamanhos uniformes, tanto menores quanto mais
firme se deseja o produto. Após a contração da coalhada, o
soro é "drenado", resultando uma massa úmida.
b.2. Queijo tipo Minas Frescal
Recolhe-se esta massa em formas próprias, salgando sua
superfície. No dia seguinte, a massa funde-se e se torna mais
uniforme, sendo este o queijo tipo frescal.
b.3. A mozzarella
Noutro processo, após a dessora, a massa é separada,
iniciando-se assim uma etapa de fermentação natural que aumenta
a acidez da mesma. Tal processo pode ser auxiliado pela adição
dos fermentos, já citados, e/ou do chamado soro ácido (soro da
produção do dia anterior). A massa vai se acidificando, até
atingir um ponto em que, colocada em água a 80/90 graus,
torna-se elástica, ou seja, ao ser esticada, não se rompe, mas
sim forma um fio.
Neste ponto, a massa é então picada e posteriormente "filada", isto é, esticada, formando fios e moldada manualmente no formato que se deseja a mozzarella, sendo rapidamente levada à água fria, o que contribui para manter sua superfície mais firme e brilhante. Após moldada, a mesma é enviada a um tanque com salmoura por períodos variáveis e posteriormente embalada.
b.4. Outros Tipos de Queijo
Variações nos processos descritos, bem como a adição de
fermentos específicos, levam à produção de tipos específicos
de queijos. Assim , na preparação do queijo tipo prato, após
colocar-se nas formas a massa produzida para o queijo tipo
frescal, a mesma é prensada por um certo tempo, ampliando-se a
dessora e após, mantida alguns dias em uma temperatura de cerca
de 13 graus, quando ocorre o fenômeno denominado
"cura"do queijo, que são transformações devidas a
processos microbiológicos e químicos na massa.
A massa do queijo tipo mozzarella, quando curada (além de alguns
procedimentos próprios), forma o chamado queijo tipo provolone.
Caso ainda fresca seja submetida à uma leve defumação,
refere-se à próvola.
A fim de aproveitar alguns queijos fora de padrão, a massa pode
ser cozida, sendo à ela incorporado mais leite e produzindo-se
um novo tipo de produto, o requeijão.
O soro do queijo é ainda rico em proteínas que, submetidas a um
processo de acidificação próprio, precipita-se, formando uma
massa, que enformada, representa a chamada ricota.
O soro da ricota, contém ainda um certo teor de gordura e
proteínas (globulinas e "finos"), que mantém ainda
certas qualidades nutritivas, podendo ser utilizados em ração
animal, ou em alguns produtos lácteos que vem sendo introduzidos
no mercado.
c. Alguns aspectos da
industrialização
A mozzarella, como os demais queijos, depende para a
manutenção de sua qualidade, de um processo extremamente
sensível à flora bacteriana pré-existente no leite utilizado.
c.1. Pasteurização
Utiliza-se o processo de pasteurização previamente à
industrialização, quando se inativam a maior parte das
bactérias originais do leite, tanto as que conferem o sabor e
aspecto característico dos produtos, quanto aquelas causadoras
de defeitos ou doenças (patogênicas). Assim, ao leite
pasteurizado, é necessário a adição de "fermentos"
próprios a cada tipo de produto a ser fabricado.
A pasteurização é na verdade um processo de inativação da
flora microbiana do leite através do calor, sem que suas
principais características sejam alteradas, pelo menos no que se
refere ao sabor e aspecto. Dois são os processos utilizados: a
chamada pasteurização lenta onde se aquece o leite a 62/63ºC
por 30 minutos, resfriando-se em seguida, e a rápida, onde o
leite atravessa um conjunto de placas, com quem troca calor, de
forma a atingir 75ºC por cerca de 1 a 2 minutos. Neste processo,
a flora microbiana reduz-se a cerca de 4% de sua quantidade
inicial. Temperaturas mais elevadas ou exposição mais
prolongada, apesar de reduzir ainda mais as bactérias, levam à
precipitação da albumina, redução de vitaminas e de enzimas
do leite entre outros efeitos.
c.2. A moldagem
O processo de moldagem, em que se dá forma ao produto, é muitas
vezes feita de forma manual e, como a massa continua em processo
de fermentação durante o tempo de moldagem, a velocidade do
processo pode interferir na qualidade do produto (ao final da
moldagem, a massa vai ficando endurecida, podendo, se muito
lenta, até "passar do ponto", e se tornar
quebradiça).
c.3. A Salga e a embalagem
Após a moldagem, o produto segue para um tanque de salga,
onde permanece por tempo variável segundo o tamanho da peça. É
então embalado em sacos plásticos, ou à vácuo, ou com
líquido (soro de fabricação ou líquido de conservação).